Se nada der certo e o fim do diploma
Facebook Twitter Google+ Se nada der certo… No início de junho, alunos de dois colégios particulares do Rio...
Todo mundo conhece alguém que entende ou gosta muito de um determinado assunto, mas que trabalha em algo totalmente na contramão da sua aptidão.
História de muitas vidas: a pessoa gostaria de ter estudado algo quando jovem, mas não conseguiu. Geralmente por falta de grana ou por falta de tempo para se dedicar aos estudos e conseguir entrar numa universidade pública.
No entanto, na última década o jogo mudou. Programas do governo federal como o Prouni, as vagas de políticas afirmativas (cotas) do SISU, o financiamento estudantil via Fies, o ensino à distância (EAD) e iniciativas privadas como o Quero Bolsa, que ajuda estudantes a conseguirem descontos generosos em universidades particulares, democratizaram o acesso ao ensino superior.
Os formandos universitários agora têm que usar camisetas personalizadas para serem distinguidos num campus. Com as novas possibilidades de inserção no mundo universitário, as salas de aula foram ganhando um ar mais maduro. Tanto que um estudo baseado no Censo da Educação Superior de 2015, indica que a média de idade dos alunos universitários do país subiu.
Alguns cursos, como Pedagogia e Gestão Pública, têm média de idade de 31 e 34 anos, respectivamente. Uma prova de que pessoas mais velhas voltaram aos bancos escolares. E a balança na casa dos 30 é sinal de que há desde pessoas mais novas, na casa dos 20, à gente na casa dos 40 pra cima.
Sentir-se deslocado ou desconfortável por causa da idade não é mais um problema para quem resolve estudar depois de “velho”. O que preocupa mesmo e pode atrapalhar, é como o adulto vai conciliar os estudos com a família e o trabalho.
O vigilante e professor de educação física, Joel Silva, de 49 anos, confirma a tese: “Eu entrei na faculdade aos 45. A faixa etária da minha turma devia ser de uns 30 anos, mas eu tinha um colega metalúrgico de 42 anos na mesma turma”, conta.
Sobre como foi entrar na universidade com uma idade avançada, o hoje professor Joel conta animado: “Deu um frio na barriga. Mas passou rápido e então veio um sentimento de realização pessoal. De ter capacidade de aprender ainda. Depois de 28 anos estava realizando um sonho.”
Já o ensino à distância foi a alternativa encontrada pelo profissional para conseguir conciliar o trabalho de vigilante com os estudos. “Eu fiz EAD e muita gente ria porque eu fazia educação física à distância. Mas a verdade é que tem que estudar bastante. Tem que ler muito. Eu estudava duas horas por dia no mínimo. Inclusive nos finais de semana”.
É natural que mesmo ao decidir estudar, o adulto ainda coloque o trabalho como prioridade. Por isso, fazer uma lição de casa sobre a própria vida, se conscientizar sobre a nova rotina, escolher bem o curso e adotar algumas estratégias são fundamentais.
1 Você quer mesmo? – Se você quer estudar unicamente por motivos financeiros, sinal vermelho. Nada garante que cursar uma faculdade te fará rico. Por isso, o desejo pelo conhecimento é o fator que deve guiar essa escolha. O desejo de aprender deve ser algo muito forte para que você não abandone o curso. Porque não será fácil. Tenha em mente que você terá uma jornada tripla – trabalho|família|estudos.
2 Você tem tempo? – Em qual período você irá estudar? O seu emprego tem uma carga horária estável, que não irá te prejudicar em relação a cursar a faculdade, bem como a chegar no horário correto? Frequência é um fator de reprovação grande. Você terá que comparecer regularmente às aulas.
E se você for aluno à distância, também se aplica. Você precisará separar ao menos três horas do seu dia para as tarefas e leituras do curso.
3 Cabe no seu bolso? – Você ganhou um desconto muito bom, mas mesmo assim ainda terá de arcar com parte da mensalidade. Mesmo em casos de bolsas integrais, o aluno terá que cobrir custos de transporte, alimentação e material escolar (livros, equipamentos, etc).
4 Aproveite o período da manhã – Acorde mais cedo do que o habitual e, antes de ir para seu trabalho, estude e realize as atividades acadêmicas. Isso ajuda a manter sua organização e potencializar o aprendizado.
5 Foco no trabalho – Sua organização no trabalho será fundamental para que você consiga frequentar bem as aulas. Não leve problemas da vida profissional para a sala de aula. Planeje sua rotina dentro da empresa para cumprir todas as atividades diárias no ambiente de trabalho.
O comprometimento necessário para a educação é o mesmo que o de criar um filho. Não dá para se formar apenas frequentando as aulas. Além do corpo, a mente deve estar presente.
“Durante as aulas práticas (frequentadas nos finais de semana) eu voltava no tempo. Era como se eu voltasse aos tempos de colégio. Deixava as questões do trabalho e de casa para fora da quadra”, conta Joel Silva, que mesmo estudando, continuou seguindo a rotina familiar. Silva levava e buscava o filho Lucas (hoje com 10 anos) na escola.
Apoio do companheiro (a) é tudo. O pai ou mãe que decidir estudar deve ter uma boa conversa com o parceiro (a) para decidir horários de estudo. Não se trata de abdicar das tarefas paternas/maternas. Até mesmo porque isso é impossível. Mas é bom estabelecer esses períodos de estudo. Ficando a cargo do outro pai/mãe a responsabilidade de cuidar das crianças nesse intervalo.
Além disso, enquanto estiver estudando ou dentro da sala de aula, é importante que o pai/mãe universitário evite se distrair com o mundo externo. Evitar entrar em redes sociais e checar ligações no celular ajuda. Buscar um lugar silencioso da casa nas horas das tarefas educacionais também.
“Voltar a estudar só ajudou. Logo no início já notei uma mudança por parte dos colegas vigilantes. Eles passaram a valorizar mais o meu trabalho. Acho que pela força de vontade”, conta Joel Silva.
E quando fala da sensação ao entrar pela primeira vez numa quadra como professor, os olhos do educador até brilham: “Eu parecia uma criança brincando com o primeiro carrinho da vida. Melhor que um sonho, porque virou realidade. Hoje o trabalho virou diversão”.
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Esse post vale para vovôs e vovós também, viu?!
Inspiração – No filme “Um Senhor Estagiário”, Robert De Niro vive um vovô que resolve voltar ao mercado de trabalho e acaba descolando uma vaga de estagiário.
Ele e os colegas acabam aprendendo muito uns com os outros 😉
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