Pais e Mães não podem proibir o ex de acompanhar a vida escolar dos filhos
Facebook Twitter Google+ Educação & Divórcio A educação infantil é direito fundamental, necessária e...
Muito provavelmente você já viu em alguma rede social aqueles vídeos com as chamadas “crianças prodígio” demonstrando habilidades impressionantes tocando um instrumento. Na semana passada fiquei muito impressionado com uma menina chinesa de dez anos de idade tocando “Johnny B. Goode”, do Chuck Berry, na guitarra. Uma execução boa…principalmente considerando a idade dela. Como hábito de quem fica “fuçando” na internet, comecei a ver outros vídeos e me deparei um uma menina brasileira, com apenas 5 anos de idade, tocando a música “Black Dog”, da banda Led Zeppelin! Eu, que já vi muito baterista marmanjo penando para tocar essa música, fiquei de boca aberta ao ver a execução da música praticamente perfeita pela pequena baterista!
Efeito Whiplash
É muito interessante observar como varia a opinião e perspectiva das pessoas ao comentar esse tipo de vídeo. Muitas pessoas ficam maravilhadas com o talento ou até mesmo com o dom natural dessas crianças, enquanto que outras criticam duramente esse tipo de vídeo, dizendo que essas crianças “não têm infância” ou “sofrem muito, pois são obrigadas a estudar muito por obrigação dos pais”…e por aí vai.
Eu dou aulas de guitarra e violão há mais de 15 anos e posso afirmar que o talento das crianças dos vídeos que mencionei acima realmente me impressiona, mas não me surpreende. Quanto maior for a exposição da criança à música no período de gestação e nos primeiros anos de vida, maior será o desenvolvimento de sua sensibilidade e percepção musicais. Com isso, o desejo de estudar música ou se aperfeiçoar em um instrumento previamente escolhido será cada vez maior à medida que a criança for se desenvolvendo.
Todos nós sabemos dos benefícios que o estudo da música proporciona para o desenvolvimento das crianças. Existem vários livros e textos que falam sobre esse assunto. Porém, é preciso constatar que ainda existem algumas lacunas no ensino de algum instrumento para essa faixa etária. Por isso é que algumas crianças se desenvolvem muito, enquanto que outras desistem logo após as primeiras aulas. É necessária uma didática especial que se aprende não somente em um curso técnico ou faculdade, mas também se aprende com a prática e experiência. Sinto informar que não existe uma receita ou fórmula mágica contendo a verdade absoluta para este assunto, mas durante esse tempo todo ensinando, percebi que o ensino para crianças necessita de alguns cuidados especiais, os quais gostaria de compartilhar com vocês:
Adaptação
Alguns professores ou escolas utilizam uma metodologia de ensino única para todos os alunos, independentemente da idade. Sinto muito informar que isso não funciona. Além do óbvio, que o ensino para crianças deve ser algo mais lúdico e menos técnico, cada criança entende o mundo de um jeito diferente. Por isso o processo de customização das aulas é fundamental. Desta forma, o método pode e deve ser adaptado de maneira a extrair o máximo de rendimento possível da criança dentro das possibilidades dela e de maneira agradável e divertida.
Carga Horária
Outra coisa que pode e deve ser adaptada. Desta forma o rendimento e foco do aluno pode ser otimizado. Além disso, por mais interessante que a aula seja, as crianças hoje em dia têm uma vida muito mais estressante do que eu tive na minha época de criança. Escola, futebol, natação, curso de inglês, teatro, música…ufa! Cansa, não é mesmo? É muito mais adequado uma aula prática e divertida respeitando o tempo dentro o qual a criança permanece focada e produtiva.
Paciência
Imprescindível e fundamental! Isso parece óbvio quando falamos sobre o ensino de qualquer disciplina, mas quando falamos do ensinar música para crianças temos que ter a virtude da paciência muito bem desenvolvida. Temos que ter ciência que as habilidades psicomotoras ainda estão em desenvolvimento e que cada faixa etária tem um nível de desenvolvimento diferente. Isso implica que a assimilação do conteúdo será de acordo com o nível de dedicação de cada aluno.
Foco
Como eu disse acima, eles aprendem rápido, mas também podem perder o foco em um piscar de olhos. O ensino de música para as crianças deve ser lúdico e interativo, de maneira a despertar a curiosidade e interesse do aluno. Caso isso não aconteça, ele perderá o interesse e estará mais preocupado em chegar ao final da aula para que ele possa fazer algo que ele goste mais, prejudicando seu rendimento e aproveitamento do conteúdo. Uma ótima maneira de manter o foco na aula é propor desafios e ajudá-lo a atingir os objetivos propostos, o que nos leva ao tópico abaixo, correndo o risco de ser polêmico:
Recompensa
Todo ser humano é movido a recompensas. Não…não adianta fazer cara feia ou reclamar…reconheça que a humanidade é assim mesmo! Cada vez que você estimular a criança com um objetivo e ele for alcançado, ofereça uma recompensa! Pode ser uma palheta, uma caneta, enfim, algo que estimule a criança a estar sempre atingindo e superando os objetivos propostos. Isso funciona, mas não pode acontecer a toda hora…somente em ocasiões muito especiais…senão, deixa de ser algo significativo! Quantas vezes você levou seu filho para cortar o cabelo em algum salão especializado em crianças e, ao final do corte, ele pode escolher um brinquedinho da vitrine? Quantas vezes você levou seu filho ao médico e ele ganhou um pirulito ao final da consulta? Foi daí que eu tirei a ideia da recompensa para meus pequenos alunos e posso afirmar que tem dado ótimos resultados!
Empatia
A melhor maneira de ensinarmos para crianças é nos colocarmos no lugar delas…enxergar o mundo sob a perspectiva delas. Desta forma poderemos entender o que é legal e divertido para elas e adaptarmos essa perspectiva para as aulas. Temos que nos despir dos nossos conceitos de pessoas adultas e voltarmos a enxergar o mundo com a inocência de uma criança, se quisermos ser interessantes para elas, aumentando o nível de interatividade. Antes que alguém fale alguma coisa, não estou me referindo a uma linguagem infantilizada, mas sim em identificar o que interessa e é agradável para a criança e utilizar isso em nosso convívio com elas. Atenção Senhores Pais: isso também funciona muito com a convivência com nossos filhos, viu? Faça isso e veja como seu tempo com eles vai ser muito mais legal!
Muito importante ressaltar que a escolha do instrumento e seu estudo deve partir da criança e não ser uma imposição da vontade dos pais. Várias escolas trabalham com musicalização infantil e permitem que as crianças tenham contato com instrumento de todos os tipos, o que pode ajudar na continuidade do estudo do instrumento de sua preferência. Já tive alguns alunos que começaram a estudar piano ou violino por causa dos pais e os resultados foram catastróficos, gerando uma certa aversão para estudar música. Meu filho, por exemplo, escolheu ser baterista, enquanto que o filho de um amigo meu que é baterista, resolveu ser guitarrista, ambos com resultados muito bons!
Vale lembrar que o desenvolvimento da habilidade da criança no instrumento e sua musicalidade está diretamente relacionado ao tempo que ela tem disponível para praticar e estudar. Aqui vale a velha máxima que diz que a prática leva à perfeição, sempre respeitando os limites da criança!
Longe de querer colocar um ponto final ou uma verdade absoluta sobre este assunto, meu ponto de vista reflete minha experiência como instrutor de música ao longo de vários anos. Várias coisas deram certo e outras não, é claro! Mas o importante é que todas as experiências que tive foram muito válidas para que eu pudesse construir a metodologia que utilizo hoje em dia. Fico muito feliz quando encontro algum aluno ou ex-aluno que continua ativo no mundo da música e me cumprimenta com um sorriso no rosto, me agradecendo pelo aprendizado! É uma sensação que dinheiro nenhum do mundo paga! É nessas horas que eu penso em todo o processo e “ralação” e digo: OPA, DEU CERTO!!!
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