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Empreendedorismo Kids – Parte II

Empreendedorismo

Esse é o segundo texto da série “Empreendedorismo Kids” do Pais em Apuros. Você pode ler o primeiro texto aqui.

Abaixo o jornalista e pesquisador Gilmar Silva escreve sobre a importância de ensinar empreendedorismo para crianças e adolescentes.

*

O futuro não será promissor para as crianças e jovens no que diz respeito ao mercado de trabalho. Na verdade, o presente já não é. Um entre cada 4 jovens no Brasil até 25 anos está sem emprego, segundo dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). A Geração Desemprego é uma triste realidade que assim como as crianças cresce a olhos vistos.

Perdeu,  linha de produção!

Tempos Modernos

A escola tradicional, seja ela pública ou particular, trabalha ainda hoje num modelo centenário de educação que entrega para a sociedade, sobretudo, funcionários. A doutrina pregada: a busca pelo emprego.

Ainda que milhares de professores trabalhem (e inúmeros outros no passado tenham trabalhado) na contramão desta ideia, entendendo que educam para formar cidadãos críticos. Projetos de Lei como o “Escola Sem Partido, apenas confirmam o que está implícito nos currículos escolares há muitos anos, o objetivo das escolas é: ‘formar um bom empregado’.

Mas num futuro com menos empregos e no qual profissões como caixa, bancário, peão de fábrica, atendente de telemarketing, contador, auditor, entre outras, têm mais de 90% de chances de serem extintas, formar empregados é como ensinar latim. Na prática não ajudará quase ninguém.

Da escola pública que historicamente forma o operário à escola particular que historicamente forma os chefes, preparando seus alunos para o vestibular, nenhuma delas está de fato preparando seu filho para o futuro. Formar um profissional que tem na figura do currículo sua principal arma para conseguir trabalhar, seja ele um peão ou um engenheiro, não vai ajudar em nada. Não tem mais sentido ensinar a próxima geração a ser “um bom empregado”. Porque como já foi dito, não haverá empregos para todos.

Quebrando a lógica do emprego

O economista Muhammad Yunus foi o ganhador do Nobel da Paz em 2006

Recentemente em uma entrevista para a revista Trip, o ganhador do prêmio nobel , Muhammad Yunus, questionou a cultura do emprego: “Quem disse que nascemos para procurar emprego? A escola? Os professores? Os livros? Sua religião? Seus pais? Alguém colocou isso na cabeça das pessoas. O sistema educacional repete: ‘você tem que trabalhar duro’. Seres humanos não nasceram pra isso. O ser humano é cheio de poder criativo, mas o sistema o reduz a mero trabalhador, capaz de fazer trabalhos repetitivos. Isso é vergonhoso, está errado.”

Jovens que fazem acontecer

Precisamos começar a permitir que as crianças e os adolescentes se tornem protagonistas da sua própria educação. Precisamos de uma educação que forme para a vida em todos os sentidos, e que no tocante à profissão, permita e estimule o jovem a desenvolver suas melhores habilidades e o traquejo social necessário para se tornar “um fazedor” e não mais apenas um empregado padrão “cumpridor de ordens”.

Novas lógicas

No futuro, para as cidades, tão ou mais importante quanto ter um polo industrial, será ter polos de pessoas empreendedoras. Pois será dos pequenos negócios que surgirão os novos empregos e se constituirão novos mercados.  

Esqueça o hype das startups

Precisamos ensinar empreendedorismo para crianças e adolescentes. Mas empreendedorismo sem firulas. Nada de Business Model Generation, planilhas de Canvas, startup e afins. Não é sobre formar o próximo Mark Zuckerberg ou Steve Jobs. É sobre preparar as novas gerações a se virar sem um emprego e gostar desse estilo de vida.

Por isso a principal questão é desenvolver a autonomia e o gosto por fazer acontecer. Como?  

New Craft – O Novo Artesão

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Uma boa aposta é recuperar antigas atitudes e práticas como a figura do artesão. Michael Kimmel nos conta em seu livro “Manhood in America” que antes do estabelecimento da figura do empregado/operário servil, dependente e obediente do século XX, a sociedade norte americana era constituída por artesãos e comerciantes, homens independentes e honestos, proprietários de pequenas lojas.

Eram ferreiros, marceneiros, donos de pequenas destilarias, padeiros, pequenos agricultores, entre outros. Trabalhadores cujos ofícios constituíam uma parte importante de suas identidades. As atividades desenvolvidas por eles na maioria das vezes eram passadas de pai para filho e tais ofícios continham em si muito significado, o ferreiro se orgulhava das suas ferramentas, o padeiro tinha orgulho de seus pães e o mesmo acontecia com um marceneiro e seus móveis.

O trabalho manual era a tônica do trabalho e o trabalhador conhecia todo o processo da fabricação de seu produto. E conhecer todo o processo fazia toda diferença.

O filósofo Richard Sennett no livro “O Artífice”, defende que as pessoas podem alcançar uma vida material mais humana ao entenderem como são feitas as coisas. Para Sennett, a maioria das pessoas pode se desenvolver através do trabalho e o caminho para isso é a atividade artesanal. Como escreve o filósofo no livro: “A habilidade artesanal designa um impulso humano básico e permanente, o desejo de um trabalho bem feito por si mesmo“.

As afirmações de Sennett vão ao encontro da maneira como inúmeros trabalhadores freelancers de hoje, como jornalistas, fotógrafos, designers gráficos, publicitários, web designers e ilustradores encaram suas profissões. A internet possibilita que estes profissionais consigam trabalhar por conta própria, uma vez que na rede conseguem exibir seus portfólios, conseguindo trabalhos mesmo sem contar com um emprego formal. Estes profissionais se assemelham aos artesãos, pois desempenham suas tarefas de maneira independente e acompanham todo o processo de suas criações e as fazem com atenção especial quanto à qualidade para garantir futuros trabalhos.

E essa realidade não é privilégio apenas de quem trabalha com comunicação, diferentes profissionais já se beneficiam da internet. Existem sacoleiras no instagram; professores de idiomas que só dão aula online; quituteiras e confeiteiras que vendem suas coxinhas e cupcakes pela rede; entre outros.

Logo, propiciar aos jovens conhecer todo o processo de fabricação/produção de um produto ou serviço é muito importante. Isso os fará dar mais valor ao que produzem ou vendem. Com a grande vantagem de que vender hoje é mais “fácil”, isso considerando que o boca a boca agora sobre um bom produto é ainda mais rápido com a ajuda das redes sociais e do whats app.

Muito além da limonada

Empreendedorismo kids

O primeiro passo dessa “nova escola” passa pela educação financeira. Algo que deve começar ainda na infância e acompanhar o jovem até a faculdade*. Mas tão importante quanto ensinar coisas como: a importância de se trabalhar para ganhar; empreender; poupar; investir e gastar sabiamente. Também é preciso ensinar que a ideia de ser empreendedor não está presa unicamente ao modelo de sempre querer ganhar mais. O velho esquema: A maior produção possível com o menor número possível de trabalhadores recebendo os salários mais baixos legalmente possíveis.

O empreendedorismo a ser trabalhado nas escolas não deve ser do tipo “Aqui é trabalho”, da ideia de que uma vez dono do próprio negócio a pessoa deve trabalhar ainda mais. Ralar muito!

Ensinar empreendedorismo não deve enaltecer a ideia do “Estou na correria, muito trabalho”. Porque essa lógica não muda a sociedade de trabalhadores exaustos e depressivos na qual vivemos, pelo contrário, ela a estimula, pois até tira o chicote da mão dos chefes, mas faz com que o empreendedor se auto chicoteie.

Os empreendedores do futuro, os “novos artesãos”, podem e devem trabalhar outras lógicas dentro do capitalismo.

Devemos incentivar um empreendedorismo possível para todos, o empreendedorismo do “Personal Business”, do negócio próprio, local, no qual a pessoa produz ou oferece algum serviço que ela domina e gosta de produzir. Sem pretensões de fazer o negócio crescer, gerar filiais ou abrir capital na bolsa de valores. Negócios que começam e terminam em si mesmo, como um pequeno café ou uma pequena editora.

Assim como outras lógicas de negócio, como a economia solidária, do empreendedorismo social praticado por ongs e coletivos em pequenas comunidades e regiões. Pois, citando novamente o nobel de economia, Muhammad Yunus, ser um bom empreendedor não está ligado a lucrar sempre mais e mais, ano após ano: “O problema está na ideia de achar que é preciso maximizar lucros e que só isso é aceitável como negócio. Não somos robôs fazedores de dinheiro. A vida não pode ser reduzida a uma busca egoísta como essa. ”

Existe sempre um outro jeito de se poder chegar

Banco Imobiliário
Novas regras – Porque na vida real não é legal quando todos vão a falência e só um ganha.

Existem maneiras mais saudáveis de lidar com dinheiro e com nossas profissões. E o mais legal é que ensinar empreendedorismo e educação financeira para as crianças pode nos legar um mundo melhor, desde que a “tara” pelo lucro diminua e que a consciência de gerar valor sustentável e equilibrado para todos os envolvidos se sobressaia.

Não esquecendo que ensinar empreendedorismo responsável nas escolas é a nossa grande oportunidade de salvar as gerações mais novas de serem taxadas de “Geração Desemprego”. Por isso devemos começar logo, o quanto antes.

Então, fica aqui o convite, que tal trabalhar por uma “Geração que faz acontecer”? O seu filho ou filha agradece!

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Sobre o autor:

Gilmar Silva é autor do livro ‘Sem Trabalho – Como Sobreviver Num Mundo Sem Empregos’.

* No próximo artigo, o autor apresentará dicas práticas para educadores e pais desenvolverem nos filhos comportamentos empreendedores e noções de educação financeira pessoal, comunitária e global.

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Autor desta Publicação
Gilmar Silva
Jornalista e educador.

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