Manifesto da Paternidade Responsável
Facebook Twitter Google+ À sociedade civil e ao Estado Muitos de nós quando pequenos sonhávamos fazer a diferença...
Videogame incita a violência. 3 em cada 4 pais americanos acreditam nessa afirmação. 3 em cada 4 pais americanos estão errados. Mesmo em relação a jogos classificados para maiores de 18 anos.
O senso comum leva a crer que jogos violentos estimulam as crianças a serem violentas. Mas a maioria das pesquisas realizadas nos últimos 20 anos não confirma essa tese. Então por que será que essa ideia é tão forte entre pais e mães?
As primeiras pesquisas sobre a influência dos jogos violentos nas atitudes das crianças são do final dos anos 80 e início dos anos 90. Muitas dessas pesquisas cravaram que sim, os jogos influenciavam atitudes violentas nas crianças. Um prato cheio para a mídia sensacionalista e conservadora norte-americana abordar. E foi o que a mídia fez, espalhou a ideia de que os jogos incitavam as crianças a serem mais agressivas.
Mas o que os pais não sabiam, era como essas pesquisas eram realizadas. A maioria dos pais ao ouvir a notícia imaginavam que as crianças das pesquisas após os testes saíam batendo nos outros. Só que isso nunca acontecia. Agressões físicas não eram analisadas. Nas primeiras pesquisas sobre o tema, o comportamento “agressivo” era identificado apenas por meio de tarefas como estourar balões ou preencher palavras aleatórias após os jogos (para ver em que os participantes estavam pensando).
Jogos de Videogame e violência – Mortal Kombat II (1993), outro game bastante utilizado em pesquisas nos anos 90.
Mesmo assim, as pesquisas da época indicavam aumento no nível de agressividade da criança de no máximo 4%. Um percentual muito baixo. Porém, a mídia no lugar de informar que apenas 4% das crianças eram suscetíveis à agressividade após jogar, preferiu simplesmente destacar que videogames deixavam as crianças mais agressivas. Fora isso, tragédias como o massacre de Columbine (1999) protagonizado por dois adolescentes que jogavam videogames (como qualquer adolescente), também colaboraram para alimentar o mito de videogames enquanto causadores de agressividade. No caso do Massacre de Columbine, a mídia colocou o game “Doom”, ao lado das canções do cantor Marilyn Manson, como um dos principais fatores de motivação do massacre.
Jogos de Videogame e violência – Toda uma nação focada em uma cultura do medo e que incentiva o porte de arma. Mas a culpa foi lançada sobre um cantor de heavy metal e um jogo de videogame.
Correlação x Causalidade
Hoje os pesquisadores se dividem entre os que defendem que o efeito dos jogos na agressividade das crianças é nenhum, e os que defendem que é quase nenhum (até 2,5%). Ou seja, mesmo do lado daqueles que identificam um efeito negativo, a influência é quase nula.
O grande erro vendido pela mídia e comprado pela sociedade, foi o de que jogos causam atitudes violentas, mas isso nunca foi provado. O que as pesquisas conseguiram identificar foram casos excepcionais de correlações, com crianças apresentando mudança de humor e agitação após ou durante os jogos. Mas nunca foi comprovado causalidade entre os jogos e violência física ou verbal.
Só que o estrago na imagem dos jogos já está feito há muitos anos. Como pregava o propagandista nazista, Joseph Goebbels, “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.
Em pleno século XXI muitos jogos seguem sendo apontados pelos pais e boa parte da mídia como a causa da violência dos jovens.
Na contramão do senso comum
A criminalidade entre os jovens tem caído em países como os Estados Unidos e o Japão, desde a ascensão dos títulos tidos como mais violentos. Claro que isso não quer dizer que os jogos diminuem a criminalidade, mas significa que eles não influenciam. Pois como defende Christopher J. Ferguson, doutor em psicologia clínica e professor de ciências aplicadas e comportamentais da Universidade de Stetson, “Nas últimas décadas, a popularidade dos games disparou em países como EUA e Japão. Já as taxas de violência juvenil caíram. Precisamos nos concentrar em outros fatores se quisermos acabar com a violência entre jovens, como a violência familiar e a pobreza. Essas, sim, são ameaças à sociedade”.
O Dr. Ferguson também encabeçou um estudo com crianças com déficit de atenção e depressão. Participaram da pesquisa 377 crianças norte-americanas com média de 13 anos, de várias etnias. Publicado no “Journal of Youth and Adolescence”, a pesquisa não encontrou evidências de que jogos violentos aumentam o bullying ou comportamento delinquente entre jovens vulneráveis clinicamente diagnosticados com elevados sintomas de saúde mental.
O problema não está no tipo de jogo, mas no tempo de jogo
Uma pesquisa da universidade Oxford realizada com crianças de 12 e 13 anos não encontrou associação entre jogar jogos violentos e praticar agressões reais e violência física. A pesquisa examinou os efeitos de diferentes tipos de jogos e o tempo passado jogando no comportamento social e acadêmico de crianças. Com o estudo os pesquisadores chegaram a conclusão de que é possível associar o tempo gasto com games com problemas de comportamento e que isso é mais significante do que o tipo do jogo.
Deixa o menino jogar… mas não muito
Outro estudo, realizado por Mirjana Bajovic, da Universidade de Brock, no Canadá, também chegou a uma conclusão relacionada ao tempo exposto aos games violentos. Observando o comportamento de 100 estudantes entre 12 e 13 anos, de sete escolas em Ontário, a cientista relatou que aqueles que passavam mais de três horas por dia em frente à tela da TV ou do computador, jogando continuamente sem qualquer outra interação com o mundo real, apresentaram diminuição no sentimento de solidariedade deles com o próximo.
Videogame não pode ser bode expiatório
Podemos então concluir que a influência dos jogos violentos existe, mas é a mesma de títulos violentos de outras mídias como filmes, Hq’s, desenhos e livros. Por isso mesmo, os pais devem ficar atentos às etiquetas da ESRB (Entertainment Software Rafting Board), o selo obrigatório que orienta a idade apropriada de cada jogo.
Paralelo a isso, culpar os games pelas atitudes agressivas de crianças e jovens é equivocado. Como defende a socióloga Karen Sterheimer, da Universidade de Southern California, no artigo científico “Videogames matam?”:
“Se desejamos compreender por que os jovens se tornam homicidas, precisamos observar mais do que os jogos que eles jogam (se referindo a violência na família e na comunidade, a alienação causada pela vida nos subúrbios e o menor envolvimento dos pais na criação) […] Ou perderemos algumas das mais importantes peças do quebra-cabeça[…] “culpar os videogames inocenta o ambiente em que a criança foi criada e também remove a culpa dos criminosos. O problema é complicado e merece mais que uma solução simples.”
***