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Crianças que comem de tudo e com menos tendência a engordar. O segredo: um desmame apropriado.
Todo mundo sabe que amamentar os bebês é importante, mas na prática não está funcionando. Muitas mães não estão amamentando seus filhos da maneira indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). E isso pode trazer prejuízos para a saúde do seu filho enquanto bebê e durante a vida adulta.
A OMS recomenda que os bebês sejam alimentados exclusivamente com o leite materno até os seis meses. Além disso, a OMS também recomenda que as mães deem de mamar no peito até os dois anos de idade.
Amamentar protege o bebê de inúmeras doenças durante a infância e a vida adulta e é a melhor fonte de nutrientes para o seu desenvolvimento. O leite materno diminui as chances de obesidade e contribui significativamente para o desenvolvimento intelectual e da confiança da criança. Isso, o leite materno faz a criança mais resistente às doenças, deixa ela forte, e contribui com o desenvolvimento da inteligência e da autoestima. Não bastasse, ainda diminui significamente as chances da mãe vir a desenvolver no futuro doenças como: câncer de mama, câncer de útero e câncer de ovário.
Mesmo assim, com todas essas vantagens, as recomendações da OMS não estão sendo seguidas por muitas mães brasileiras.
Segundo pesquisa do Ministério da Saúde, as mães estão colaborando para o desmame precoce. Em média as mães têm alimentado exclusivamente seus bebês com leite materno por apenas 54 dias (o recomendado são 180 dias). Depois disso, já começam a complementar a dieta com leites artificiais e outros alimentos, muitas vezes recomendados erroneamente por pediatras.
Ainda segundo a pesquisa, apenas 41% dos bebês de até 6 meses receberam alimentação somente com o leite materno.
Por que será que essas mães estão agindo assim?
Dar de mamar no peito para o filho é uma experiência das mais bonitas na vida das mulheres. Muitas até sonham com esse dia. Mas a maioria não se prepara. O principal motivo do chamado “desmame precoce” é a falta de informação (ou informações equivocadas) das mães em relação a como amamentar corretamente.
O primeiro inimigo da amamentação correta mora exatamente em romantizar a prática. Muitas mães pensam que amamentar será algo natural: “Instinto materno”. Bem, tal instinto pode até existir, mas isso não impede do bico do peito doer e até rachar, principalmente nas duas primeiras semanas. E a dor leva muitas mulheres a desistir de alimentar ou a introduzir precocemente leites artificiais na alimentação do bebê.
Muitas vezes a sensação da mãe é a de que precisaria ter uns dez peitos. E isso não é mimimi, pelo contrário, afinal porque você acha que a elite – dos nobres da Roma Antiga até os reinados medievais e os senhores de engenho – sempre teve entre suas escravas e empregadas as chamadas “amas de leite“? Resposta: Porque amamentar pode sim ser incômodo.
Mas calma, não se desespere, com a prática de técnicas de pega correta e dedicação, a mãe consegue minimizar as dores dos primeiros dias e amamentar sem problemas. Porém, vencido esse desafio vem o segundo: Disponibilidade. O bebê vai mamar muito e em horários malucos. É comum muitas mães se verem angustiadas e até mesmo tristes, por não terem tempo para si mesmas ou para socializar.
Fora a dor e a pressão particular, de ver a própria identidade ser deixada um pouco de lado, a mãe ainda sofre pressão externa. Seja da empresa que quer a mulher profissional de volta ao trabalho e focada em seis meses, até mesmo os companheiros que cobram casa arrumada, comida na mesa e até relações sexuais mais satisfatórias. Pois é, tem marido egoísta que acha que é dono do seio da mulher e se incomoda com o leite que jorra dele.
Toda essa pressão de não conseguir dar conta de tudo (suportar a dor, dormir pouco, arrumar a casa, agradar o marido, não perder o emprego, ter tempo para si mesma…) é o que leva muitas mulheres a acelerar o processo do desmame. Ou então, cumprir no máximo os seis meses “obrigatórios”.
Logo, a pressão social e a falta de apoio do companheiro e da família são os principais vilões da problemática do “desmame precoce” no país, não a mãe.
Invés de criticar essas mães, precisamos conscientizar e apoiar as mães para que amamentem durante o período adequado. E nós podemos fazer isso de duas maneiras. Nos informando sobre as boas práticas da amamentação e as ajudando a amamentar. Partiu ajuda-las?
Saiba como no guia abaixo:
1 Quando começar e quando parar de amamentar no peito?
A primeira mamada do bebê deve acontecer ainda no hospital, logo após o parto, de preferência na primeira meia hora de vida.
A mãe neste caso ainda não conta com leite materno e sim com o chamado “colostro”. O colostro é um fluido muito líquido, amarelado e quase transparente, que é produzido pela mama, antes do leite materno propriamente dito. Ele é muito rico em proteína e gorduras essenciais e funciona como se fosse a primeira vacina do bebê. Isso porque o colostro está repleto de anticorpos produzidos pela mãe. Por isso, a primeira mamada é responsável por transferir a informação sobre todos os microrganismos com os quais a mãe entrou em contato durante a vida, um escudo de valor inestimável para o recém-nascido.
A primeira mamada também serve para fortalecer o vínculo da mãe com o bebê e para dar início a adaptação da mãe com a amamentação.
O ideal é que a criança seja alimentada exclusivamente com leite materno até os seis meses. Passado os seis primeiros meses, a mãe já deve começar a introduzir alimentos sólidos na dieta do bebê. Mas não como substituto do leite materno, e sim como complemento. A OMS recomenda que as mães deem de mamar pelo menos até os dois anos de idade da criança.
Já o desmame deve acontecer de maneira natural, após os dois anos, de preferência sem ser uma medida repentina. Existem várias técnicas de desmame. Conheça algumas aqui.
2 O leite materno é o melhor alimento para o seu bebê mesmo após os 6 meses
As grandes empresas de papinhas e leites artificiais temem o leite materno porque ele simplesmente é um produto melhor e de graça. De acordo com informações do Unicef, mesmo no segundo ano de vida do bebê, o leite materno ainda é importante. 500 ml de leite materno fornecem 95% das necessidades de vitamina C, 45% das de vitamina A, 38% de proteína e 31% do total de energia que uma criança precisa diariamente.
3 O leite materno diminui riscos de doenças
O leite materno é um aliado importantíssimo para a saúde do bebê. O leite materno previne doenças como infecções gastrointestinais, respiratórias e urinárias. Também diminui as chances da criança desenvolver alergias, ter dores de ouvido, além de estimular o crescimento e o desenvolvimento adequado da musculatura oral, ajudando na respiração, deglutição e mastigação.
Estudos também apontam que a amamentação adequada diminui as chances do indivíduo, ao se tornar adulto, desenvolver doenças como obesidade, diabetes e hipertensão.
4 A “pega” correta
A pega incorreta do bebê é o principal causador das temidas rachaduras e das dores. Por isso ajudar o bebê a ter uma pega adequada é muito importante. A criança não pode abocanhar apenas o mamilo, ela deve abocanhar também boa parte da auréola. A boquinha deve estar bem aberta, com os lábios voltados para fora e o queixo encostado na pele da mãe. Preste atenção também à sucção. A formação de covinhas na bochecha do bebê e barulhos não são sinais positivos.
5 Amamentar de noite
Imagine que você até um mês atrás vivia numa caverna escura. Pois bem, dormir ao meio dia ou às 3 da madrugada não faz diferença. É assim com os bebês, eles até “ontem” viviam no útero. Lá eles dormiam e se alimentavam a qualquer hora. Independente de ser dia ou noite.
Por isso que os bebês acordam de madrugada para mamar. Não é de propósito, é só o relógio biológico deles que não funciona de acordo com o horário de Brasília. Mas após o primeiro ano de vida, o bebê já começa a experimentar ter noites inteiras de sono, se adequando ao ritmo da família.
Além disso, a mamada noturna é importante para a produção de leite.
“Os níveis de prolactina no corpo da mulher são maiores durante a noite, e são as mamadas noturnas que estimulam a fisiologia materna para a quantidade de leite necessária para o dia. Quando a mãe não amamenta durante a noite, ela arrisca ter uma menor produção de leite, muitas vezes a ponto de não conseguir mais amamentar”, esclareceu recentemente o nutricionista Eduardo Szpak Gaievski em artigo para o site Papo de Homem.
6 Identifique o choro de fome
Bebês choram. Acostume-se, é assim que eles se comunicam. Mas aprender a identificar cada tipo de choro vai poupar os seus tímpanos. Como? Simplesmente assista esse vídeo:
7 Como armazenar o leite materno
Vai chegar uma hora que a mãe vai retornar ao trabalho. Neste caso armazenar o leite será importantíssimo.
A mãe pode ordenhar o leite manualmente ou com o auxílio de uma bomba. O processo é demorado e pede paciência da mãe. Mais uma vez o apoio e companhia do pai são fundamentais. Após colher o leite o mesmo deve ser estocado no congelador.
Para descongelar, basta aquecer em banho maria. Mas é importante frisar, nos momentos que a mãe estiver em casa, ela deve amamentar no peito. O leite estocado deve servir apenas como substituto para os momentos de ausência da mãe.
8 Mamadeira Não!
Não ofereça uma mamadeira. Mesmo nos momentos que você estiver ausente. Elas vão roubar o seu filho do seu seio. Até as que vem com especificações que dizem simular o formato do bico do peito. Porque todas, TODAS, mamadeiras oferecem sucção mais fácil. Seu filho vai negar o seu peito depois que conhecer a facilidade de uma mamadeira.
Solução: Por meio de um copinho ou colher
São as melhores opções, pois o padrão motor oral nestas formas de alimentação são mais semelhante ao utilizado na sucção do seio materno. Confira como utilizar o copinho aqui.
9 A importância do pai
Amamentar pode ser uma tarefa solitária, monótona, repetitiva e até castigante para a mulher. O apoio do pai é fundamental para que a mulher não opte pelo desmame precoce.
Os pais podem e devem ajudar…
10 É direito da mãe amamentar em qualquer lugar
Recentemente pipocaram na internet relatos de mães que foram hostilizadas por amamentar em público. Uma patrulha com pudor do cuidado mais natural de todos os seres vivos.
Mais que um cuidado da mãe, amamentar é um direito da criança. Direito de ter acesso ao melhor alimento disponível (e único até os seis meses), a qualquer hora e em qualquer local.
E a lei garante esse direito da mãe e do bebê. No estado de São Paulo existe até multa (R$500,00) para estabelecimentos que proibirem mães de amamentarem seus filhos em público.
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Comentários
1 comentárioEduardo Szpak
jan 14, 2017Belo texto! E obrigado pela referência 🙂
abraço!