Um bebê na bicicleta
Facebook Twitter Google+ O casal Allan e Annete são adeptos, desde 2008, da bicicleta como principal meio de...
Confira o segundo texto da série “Dilemas de um pai de adolescentes”. Você também pode ler o primeiro texto da série clicando aqui.
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Na famosa “teoria dos jogos” o matemático John Nash ensina que diante de uma negociação, o melhor resultado é sempre alcançado ao adotarmos uma ação multilateral. Esse pensamento ficou conhecido como “equilíbrio de Nash”. O que a grosso modo quer dizer que diante de uma disputa devemos considerar também as ações do outro, prevendo seus movimentos, bem como influências externas, a fim de fazer melhores projeções e assim optar pela melhor escolha.
Uma mente Brilhante – Pensar no melhor pra si, sem esquecer do melhor para o grupo. Quase um ubuntu das ciências exatas.
A teoria dos jogos é aplicada em diferentes áreas. E ela pode ser utilizada inclusive na educação de um filho adolescente, como eu bem descobri durante a minha fase “pai de adolescente”.
Muitas vezes, durante discussões entre pais e filhos acontece de ambas as partes buscarem apenas soluções focadas em benefício próprio, ligadas àquilo que cada parte considera certo, o que geralmente é apenas o melhor pra si. A velha ideia do aos vencedores tudo e aos perdedores nada. Nossos egos gostam dessa ideia. Daí pais e filhos não consideram os interesses uns dos outros. Logo, a negociação se torna desgastante e ambas partes saem perdendo.
Percebi isso com o meu filho mais velho. No final da sua adolescência e início da juventude sempre que começávamos a discutir sobre algo entrávamos em um estado de negociações encerradas. Não havia cooperação. Zero entendimento. Os egos inflados dominavam.
Como lidei?
Em uma discussão de pai/mãe & filho(a) não é fácil aplicar a lógica do equilíbrio de Nash. Ambas as partes estão sempre querendo ser “donos da razão”. Falta a percepção, o distanciamento para enxergar o todo. É complicado pensar além das nossas vontades/crenças. Só consegui lidar bem com esses verdadeiros cabos de guerra com meu filho quando lembrei de uma habilidade comum a muitos professores: a capacidade de ser interlocutor, mediador.
Me recordei que durante a carreira de professor de educação física muitas vezes fui abordado por pais questionando qual era o meu segredo, uma vez que o filho adolescente me escutava, mas não os escutava. Foi aí que caiu minha ficha. Eu era um mediador. É mais fácil para um mediador olhar o todo e aplicar a lógica de Nash. Como professor eu conseguia dar conselhos melhores. Havia um distanciamento, emocional e profissional, que facilitava isso.
Avós, tios, dindas e dindos
A lógica dos mediadores que funciona nas escolas, também funciona em nossas famílias. É comum tios, madrinhas e avós serem mais bem atendidos e ouvidos pelos adolescentes. Suas conversas com os jovens fluem mais naturalmente. Eles são os mediadores que ajudam na educação dos filhos.
Demorei para me dar conta, uma pena, porque no meu caso estes mediadores poderiam ter contribuído muito nos impasses e nas negociações entre eu e meu filho.
No vídeo: A maior das liberdades – A “liberdade de enxergar o outro” defendida pelo escritor David Foster Wallace. Ideia irmã do “Equilíbrio de Nash”.
Num mundo ideal todos os pais desenvolveriam a fundo a habilidade de sempre enxergar o todo e considerar o outro, antes de simplesmente querer impor as próprias vontades. Mas a nossa “configuração padrão” é egocêntrica e joga contra. Então, se você não conhece a teoria dos jogos, não é o John Nash ou um conciliador jurídico, preste atenção em quem seu filho ou filha se apega mais pra conversar. Pode ser padrinho, madrinha, tio, tia, professor(a). Enfim, preste atenção e aproveite a chance para conversar com eles sobre o seu impasse ou questão a ser resolvida.
Essa simples iniciativa pode ser decisiva para você construir um relacionamento melhor com o seu filho, e ela também ajuda bastante no desenvolvimento da maturidade de ambos. Funcionou comigo. Espero que também funcione com vocês.
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