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Música LGBT: Seu filho escuta e isso é bom!

Inacreditável, mas seu filho me imita. […]Esse não é mais seu. Entrei pelo seu rádio, tomei ‘cê’ nem viu”

Por Gilmar Silva e João Pedro Teles

Música LGBT - Pais em Apuros
#WTF? – Calma, você já vai entender o que o Mano Brown, vocalista do Racionais, está fazendo nesse texto.

Os Racionais Mc’s cantam a frase que abre esse texto no hit “Negro Drama”. Trata-se de uma provocação para a chamada “família tradicional brasileira”. Aquela exaltada pelos políticos conservadores. A família pseudo-perfeitinha, que olhando mais de perto se revela hipócrita, porque é cheia de preconceitos, mas também é cheia de pecados.

Na mesma música, o rapper Mano Brown emenda sobre o preconceito racial:

Nós é isso, é aquilo… Você dizia.

O que? Seu filho quer ser preto?

ahhhh que ironia”.

Negro Drama, lançada em 2002, é uma resposta aos pais que proibiam seus filhos de ouvirem o som da banda nos anos 90, porque o rap do grupo supostamente faria apologia ao crime, era “música de bandido”.

Entenda o rap do Racionais - Pais em Apuros

Pois é, só que os pais que pensavam isso nos anos 90, 2000 e os que ainda pensam, nunca pararam para escutar as letras da banda de verdade. As letras dos Racionais Mc’s não incentivam o tráfico, nem a bandidagem. Tão pouco desrespeitam a religião. Muito pelo contrário.

Entenda o rap do Racionais - Pais em Apuros

Racionais é uma banda que canta sobre andar pelo caminho correto:

Malandragem de verdade é viver” aconselham na música ‘A Fórmula Mágica da Paz’.

Já no maior hit do grupo ‘Vida Loka parte I’, pregam a paz. Quando o amigo chega instigando Mano Brown para ir cobrar um mal-entendido, Brown responde: “Ir atrás de quem e aonde? Sei nem quem é. Mano, não devo, não temo e dá meu copo que já era”. Na mesma música o vocalista exalta seu respeito pela fé cristã:

Fé em Deus que ele é justo. Ei irmão nunca se esqueça, na guarda, guerreiro, levanta a cabeça. Truta, onde estiver, seja lá como for, tenha fé porque até no lixão nasce flor. 

Ore por nós pastor, lembra da gente. No culto dessa noite, firmão segue quente. Admiro os crente, da licença aqui. Mó função, mó tabela, pow, desculpa aí.”

O problema não era a música. Era a pele escura. O diferente. A aparência. Era preconceito.

Não adianta proibir

Música LGBT - Pais em Apuros
A cantora Liniker

Uma leva de novos artistas LGBT da música brasileira vem fazendo o mesmo barulho na cabeça da garotada e sofrendo o mesmo preconceito que os Racionais nos anos 90. Tem gente os acusando de influenciar negativamente a nova geração. Muitos pais acham que eles vão fazer os jovens virarem homossexuais.  “Estão estragando os adolescentes”, eles dizem.

Só que as letras deles são riquíssimas. Mais uma vez o problema é a aparência, o diferente. É preconceito mesmo. Mas com preconceito ou sem preconceito, uma coisa é certa, tais artistas estão na verdade é educando e empoderando a molecada mais nova. Jovens talentos, como Liniker, estão mostrando que os jovens podem e devem ser eles mesmos. Sem máscaras.

“Deixa eu bagunçar você”

“É a Liniker”, corrige a cantora durante um sarau realizado no Sesc São José dos Campos. Liniker é ela por uma questão de identidade de gênero. E seu sucesso na MPB é o reflexo de uma sociedade onde gays, lésbicas e trans exigem inclusão e respeito.

Aqui já cabe uma pequena pausa para quem ainda está perdido com o vocabulário LGBT. A gente explica tudo de maneira didática aqui ó. Mas resumindo:

A identidade de gênero é como o cérebro se entende: se sou menino ou se sou menina. A orientação sexual diz respeito ao sexo pelo qual a pessoa apresenta desejo sexual. E tudo isso acontece independente do sexo biológico, que são as características do corpo (corpo de homem, corpo de mulher). Entendido?

“Pros mano, pras mina e pras mona”

Pois então, como íamos dizendo, Liniker é uma expoente dos novos ídolos LGBT que refrescaram a música brasileira. Semanas antes do sarau citado acima, a cantora se apresentava no mesmo ginásio. Um público fiel e ansioso cantava de cor todas as letras. Hetero, gay, trans. Liniker fala para o coração de todo mundo.

Lacradoras

Essa geração não está mesmo para brincadeira. Quem já ouviu o som da banda As Bahias e a Cozinha Mineira sabe exatamente do que estamos falando. O grupo, formado por duas vocais trans, é uma porrada. Pensa na Cássia Eller. É mais ou menos por aí.

Sai a Liniker | Entra o Lineker

E só para confundir mais um pouco. Já ouviu o Lineker. Sim, Lineker, com e. Não a Liniker. Sim, variações de um nome tão incomum nos trouxeram dois talentos da nova MPB, dois artistas que trazem a questão de gênero para seus trabalhos.

Música LGBT - Pais em Apuros
O cantor e performer Lineker.

Para quem nunca ouviu, Lineker pode ser classificado como um Ney Matogrosso do novo milênio. A voz aguda, a presença de palco, a dança, o figurino. Vale a pena procurar.

Ae, Truta, também tem gay no rap – Rico Dalasam manda muito bem e já gravou com EMICIDA 

Mas o leitor mais atento já deve estar questionando: pera aí, mas sempre teve gay ocupando espaço de destaque na música. Sim, muito bem observado. Ídolos como Ney Matogrosso, Marina Lima, Cássia Eller, Cazuza. E a lista segue.

A música sempre foi gay

Música LGBT - Pais em Apuros
Ney Matogrosso e Cazuza

Tanto que no livro “Nós Duas: a Representações LGBT na Canção Brasileira”, o pesquisador paulistano Renato Gonçalves parte de 30 músicas, lançadas de 1971 a 2015 para reconstruir a representação LGBT na música do país.

Ao jornal Diário de Pernambuco, o autor defende que todas as épocas contam com um volume relevante de representatividade, porém, “A década de 1970 merece destaque, não só pelo pioneirismo, mas pela resistência frente a um aparelho de repressão e censura institucionalizada”, destaca.

Love is Love

Qualquer maneira de amor vale a pena

Pois se os pioneiros da década de 1970 abriram o caminho, os ídolos LGBT da atualidade, como Liniker, têm um papel importantíssimo na construção de uma sociedade menos preconceituosa, sobretudo, em uma época marcada por retrocessos políticos e intolerância. Vida longa aos músicos LGBT. Força pra todxs!

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