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Minhas mulheres

Por Leila Grassi

Assim ele se refere à esposa e filhas: “minhas mulheres”. E como gosta delas!

São três filhas que ele aprendeu a cuidar desde bebês – aprendizado duplo, dele e meu (a esposa), pois aos 28 e 25 anos (nossas idades na época) é muito difícil saber como cuidar de filhos. Fomos aprendendo no “seguir do acontecido”, como se diz por aí, estudando, lendo, acertando e errando também.

Dar banho nas recém-nascidas ele nunca deu: elas vão quebrar, dizia, mas deu papinha, cantou, contou histórias, brincou de casinha, empinou pipas e ensinou a fazê-las, escorregou em barrancos sobre papelão, pegou “jacaré” nas águas do mar… Viveu intensamente cada uma das fases das meninas.

Aí elas foram crescendo. Levava pra escola e ia buscar. É certo que esqueceu uma delas na saída da escola, mas voltou para pegá-la quando percebeu o deslize, motivo de brincadeiras e risos até hoje. A menina na calçada vendo o carro do pai passar e ir embora… E agora? Agora nada. É esperar que ele vai voltar! Dito e feito.

E ainda tinham os cursos extraescolares: a mais velha levava ao balé; a do meio ao futebol e a pequena ao conservatório de piano. E todas elas às casas das amigas, ao inglês, à aula de bordado, ao violão, ao piano… UFA! Conhecia os pais, os avós e as crianças que o chamavam carinhosamente de tio.

Teve a felicidade de ser profissional autônomo e, portanto, fazia seu próprio horário de trabalho e gostava de participar efetivamente da criação das meninas. Só reclamava quando, no horário de verão, levantava de madrugada, com o dia ainda escuro, para levá-las à escola.

E assim foram crescendo com o pai sempre muito presente em todos os seus momentos.

Os churrascos da galera (já adolescentes) eram sempre em nossa casa – desculpa nossa para festejarmos juntos e conhecermos os amigos de perto.

Nunca menos de 10 adolescentes ruidosos compareciam. Traziam violão, bola, bebida… Por isso era melhor que fossem em nossa casa: não havia excessos. É lógico que tínhamos sempre muitos picolés no congelador para “adicionar glicose” na turminha. Nunca houve necessidade de maiores cuidados ou preocupações com excesso de bebidas, como já afirmei. Eles brincavam, conversavam, cantavam, nadavam, comiam, enfim, se divertiam.

…E chegou o tempo das baladas noturnas. Ah! O que fazer? Deixamos ir? Vamos juntos? “Que mico mãe! Ir junto nem pensar!!!!!”Então resolvemos assim: a mãe leva todo mundo e o pai busca na madrugada.

A arrumação começava cedo, a agitação era total. O telefone não parava de tocar – sim telefone fixo, pois celulares eram raros. Chegada a hora começava a maratona de passar na casa de um e de outro para pegá-los e explicar aos pais como seria o retorno. O carro cheio – uma perua para sete lugares – lá íamos nós!

– Mãe, não para em frente da balada, tá? Deixa a gente na esquina.

Que absurdo! Eles não querem que ninguém veja que foi a mãe quem trouxe… Quem mais poderia ser? Ninguém tinha carteira de motorista! Deixo a turminha na esquina com o rosário de recomendações seguidas por um uníssono: TÁ BOM MÃE (TIA) A GENTE JÁ SABE!!!!!

Volto pra casa e fico esperando o telefone tocar para pegar todos de volta. Na madrugada, o pai levanta e vai pegá-los – DE PIJAMA!

No início um constrangimento geral, depois, com o tempo isso se tornou a brincadeira dos adolescentes… Como será o pijama do tio hoje? E esse pai (tio) mesmo de pijama, levava a galera para a lanchonete – na madrugada – para comer sanduiches – todos, inclusive aquele de pijama.

Sentavam à mesa, faziam os pedidos e, enquanto esperavam iam relatando os acontecimentos da festa. Sem que percebessem nos punham em contato com os comportamentos, com as atitudes, com palavreados, situações e assim fomos conhecendo e participando do crescimento saudável das nossas meninas e de seus amigos.

Hoje, já mulheres feitas – expressão antiga – conservam muitos desses amigos. Não moramos na mesma cidade, mas sempre que dá nos reunimos em casa para um churrasco e em meio aos assuntos atuais sempre nos lembramos das passagens de “antigamente”, motivo de muitas gargalhadas!

Participar do crescimento deles, vê-los tornarem-se adultos, mantermos a amizade foi acontecendo naturalmente. Nunca impusemos nossa presença, ela foi conquistada e sempre pedida. Alguns pais ainda são nossos amigos e conversas e bate-papos acontecem hoje nas redes sócias, devido às diferentes cidades onde moramos.

Alguns dos meninos nos chamam pelo nome e não mais de “tio”, outros conservam o hábito. A nós é indiferente. O que queremos é continuar participando e convivendo com essa moçada que tanto nos ensinou e nos ensina até hoje.


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Autor desta Publicação
Leila Gasperazzo Ignatius Grassi

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