Opa deu certo: Mães blogueiras
Facebook Twitter Google+ Já faz um tempo que os “blogs de pais” vêm ganhando cada vez mais força e destaque...
Nos últimos anos ficou difícil acompanhar o vocabulário sobre identidade de gênero e expressões de gênero. Foi-se o tempo em que o batido GLS, que designava festas para gays, lésbicas e simpatizantes, dava conta do recado. Mesmo o acrônimo LGBT, já institucionalizado, hoje apresenta variáveis como LGBTQ ou LGBTQI.
“Virou bagunça”, diria aquele tio conservador no churrasco da família. Mas, olha tio, não virou não. Foi o relacionamento entre os seres humanos que evoluiu e agora está mais respeitoso e justo.
Se antes todos os problemas relacionados a sexualidade e identidade de gênero costumavam ser tratados da mesma maneira, hoje a psicologia e a medicina estão empenhados em garantir a qualidade de vida e a saúde emocional de milhões de pessoas representadas por essas letras.
Para explicar parte dessa sopa de letrinhas o Pais em Apuros preparou um breve especial sobre identidade de gênero. Serão publicadas 4 reportagens em maio promovendo a tolerância e a convivência respeitosa entre as pessoas, independente da sua identidade de gênero ou da sua orientação sexual. Boa leitura!
Antes de responder essa pergunta, é preciso explicar a diferença entre identidade de gênero, orientação sexual e sexo biológico.
Identidade de Gênero = É como a pessoa se sente. Como o cérebro dela percebe o mundo. Ex: “Sou homem”, “Sou mulher”.
Orientação sexual = É o sexo pelo qual a pessoa apresenta desejo sexual. Por quem a pessoa se sente atraída.
Sexo biológico = Refere-se a genitália. Pênis ou Vagina.
Desenhando, é tipo isso:
– Homossexual é uma pessoa que sente atração física por uma pessoa do mesmo sexo. Uma pessoa homossexual na maioria dos casos se sente confortável com seu sexo biológico (pênis/vagina).
– Transgênero é uma pessoa que nasceu com a “personalidade” de um sexo, mas que lhe foi atribuído no nascimento o sexo oposto devido seu sexo biológico (pênis/vagina). Uma pessoa transgênero costuma se sentir presa num corpo estranho e apresentar até mesmo repulsa pelo próprio corpo. Ex: Um homem transgênero se identifica como homem, mas nasceu num corpo de mulher, tem características físicas femininas.
De acordo com o neurocientista holandês, Dick Swaab, sim. O pesquisador do Instituto Holandês de Neurociência explica que a diferenciação do sexo biológico (pênis ou vagina) ocorre nos dois primeiros meses de gravidez. Já a diferenciação sexual do cérebro acontece na segunda metade da gestação.
“A genitália e o cérebro são submetidos a ambientes distintos de hormônios, nutrientes, medicação e outras substâncias químicas”, declarou o pesquisador em reportagem da National Geographic em janeiro. Segundo Swaab, esse cenário distinto de estímulos afetaria a diferenciação sexual. O que poderia explicar o nascimento de pessoas transgênero, bem como tendências homossexuais.
A linha de pensamento científico do Dr. Swaab não é um consenso na medicina. Principalmente porque sugere que exista um tipo de cérebro masculino e outro feminino (algo ainda não comprovado pela ciência). Mesmo assim, grandes centros de psiquiatria do mundo têm trabalhado nessa linha, principalmente os de tratamento de crianças e jovens transgêneros.
Esse é o caso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. O primeiro centro público para crianças transgêneros do Brasil.
A instituição serviu de cenário para uma série do Fantástico este ano, produzida com a participação do dr. Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero do hospital. O primeiro episódio da série pode ser assistido abaixo (duração 12 min).
Outra vez aquele tio conservador se manifesta. Dessa vez quem pode respondê-lo com propriedade é a história.
O historiador William Naphy, diretor do colégio de Teologia, História e Filosofia da Universidade de Aberdeen, no Reino Unido, no livro ‘Born to Be Gay – História da Homossexualidade’, afirma: “Em toda a história e em todo o mundo a homossexualidade tem sido um componente da vida humana”, […], “Nesse sentido, a homossexualidade não pode ser considerada antinatural ou anormal. Não há dúvida de que a homossexualidade é e sempre foi menos comum do que a heterossexualidade. No entanto, a homossexualidade é claramente uma característica muito real da espécie humana.”
O badalado Dr. Drauzio Varella também acredita nisso. Como a gente pode ver no vídeo abaixo e aqui.
As reuniões cheias de pais indicam que o Hospital das Clínicas tem prestado um serviço fundamental a sociedade. A maioria dos pais ainda procuram o centro acreditando que seus filhos pequenos sejam homossexuais, mas lá descobrem as diferenças entre as diversas expressões de gênero existentes.
L = Refere-se a mulheres lésbicas. Mulheres que sentem atração sexual por outras mulheres. É uma orientação sexual.
G = Refere-se a gays. Homens que sentem atração sexual por outros homens. É uma orientação sexual.
B = Refere-se aos bissexuais. Homem ou mulher que sente atração sexual por ambos sexos, homens e mulheres. É uma orientação sexual.
T = Refere-se aos transgêneros. Pessoas que se identificam, se sentem como sendo de um determinado gênero, mas cujo sexo biológico (pênis/vagina) é o oposto. Não é uma orientação sexual.
Q = Refere-se a “queer”, um termo inglês que representa uma gama de pessoas que não se consideram heterossexuais ou cisgêneros (pessoa cuja identidade de gênero corresponde a mesma do sexo biológico). Algumas pessoas autodenominadas “queers” até questionam e não aceitam as identidades de gênero, considerando-as construções culturais/sociais.
I = Refere-se a Intersexual. Antigamente chamados de hermafroditas, são pessoas com um distúrbio de desenvolvimento sexual (DDS). Acontece quando os órgãos reprodutivos e os órgãos genitais não se desenvolvem normalmente. Então ocorre uma mistura de características sexuais masculinas e femininas. Ex: A pessoa pode ser do sexo feminino com órgãos internos normais, como o útero e os ovários, mas tem um clitóris alargado que se assemelha a um pênis. Ex: Síndrome de insensibilidade completa à andrógenos (SICA). Nesta síndrome meninas apresentam clitóris e vagina, mas contam com cromossomos masculinos (XY) e no lugar do útero tem testículos.
Se o seu filho brinca de bonecas, pediu uma roupa rosa ou resolveu se maquiar. Calma! Não se desespere. Se a sua filha quer ser o Hulk, adora jogar futebol e não quer nem saber de princesas, idem. Não se preocupe.
Preconceitos como: azul é de menino, rosa é de menina. Futebol é para homem. Homens não choram. Homens são fortes. Mulheres delicadas. Etc etc… são construções sociais, culturais.
É natural crianças pequenas brincarem de tudo. Quem introduz os preconceituosos “isso é de menino” e “isso é de menina” são os pais e a sociedade (creche/igreja/familiares).
Um menino que brinque de casinha não vai virar gay. Pelo contrário, provavelmente será um homem melhor. E quer saber, o mundo precisa urgente de menos machos e mais homens que limpem a própria bagunça.
Já a preocupação com a identidade de gênero só deve surgir se a criança reivindicar ser do gênero oposto de maneira “persistente, consistente e insistente”, orientou em entrevista para a National Geographic o terapeuta americano, Jean Malpas, coordenador do Programa Gênero e Família do Instituto Ackerman.
O Dr. Saadeh do Hospital das Clínicas complementa a orientação do colega norte-americano, “As crianças que não se identificam com o sexo que nasceram costumam manifestar a insatisfação de maneira enfática entre 2 anos e meio e 5 anos de idade”, explica.
A norte-americana Avery Jackson, 9 anos, e a brasileira Melissa, de 11 anos, são meninas trans.
Ambas nasceram com o sexo biológico masculino, mas com a identidade de gênero feminina. Ambas recentemente se tornaram símbolos da agenda sobre a conscientização das crianças transgênero.
Melissa, ou Mel como prefere ser chamada, estreou a série documental do Fantástico “Quem sou eu?”.
“Pra mim eu estava fantasiada de menino até os 9 anos. 9 anos com uma fantasia quente e ‘pinicante’. Aí eu pedi para os meus pais de aniversário que me transformassem em menina”, contou na série.
Bem articulada, a menina encerra o primeiro episódio palestrando para os colegas da escola sobre o que é uma pessoa transgênero.
A americana Avery Jackson também chamou atenção do mundo pela mídia ao ilustrar a capa da edição de janeiro da revista National Geographic e ser uma das protagonistas do documentário “O que nos define?”.
Com a frase “A melhor coisa de ser menina é que agora não tenho mais que fingir que sou menino”, Avery chamou atenção do mundo. Sensata, virou um ícone trans, e assim como a brasileira Mel, também costuma dar suas palestras.
Vivendo desde 2012 como uma menina trans, Avery revela no documentário: “quando eu passei a me vestir como uma menina na escola, meus amigos foram legais. Os pais deles que não foram”.
Infelizmente essa fala de Avery atesta uma verdade inconveniente para a maioria dos pais. Nossos filhos não nascem preconceituosos. Nós que os tornamos preconceituosos.
Como podemos ver no vídeo abaixo, as crianças apenas espelham as casas e sociedades onde vivem.
Que tal mudarmos esse jogo? Pois como Avery explica: “Eles (os pais) pensavam que ser transgênero era algo contagioso tipo uma gripe ou algo do tipo. Mas não é. Eu sou apenas uma garota comum”.
Ela, Melissa e milhares de outras meninas e meninos trans não fazem mal algum. São apenas CRIANÇAS, pais.
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Não perca: Na próxima reportagem do nosso especial de identidade de gênero apresentaremos dicas de como ajudar os “filhxs” transgêneros e homossexuais a lidarem com a pressão da sociedade. Bem como onde buscar apoio para eles e para toda a família. Acompanhe-nos no facebook e não perca 😉
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