Conte a sua história no Pais em Apuros!
Facebook Twitter Google+ Pais blogueiros Já pensou em se tornar uma mãe blogueira ou um pai blogueiro? Se sim,...
Todas as vezes que vasculho as memórias da minha infância, lá encontro meu pai: desde sempre meu companheiro de aventuras.
Tudo começou, pelo menos que eu me lembre, quando ele foi me ensinar a andar de bicicleta. As primeiras lições foram no quintal de casa em uma bike rosa cheia de fitinhas coloridas no guidão. Depois, quando ele tirou as rodinhas, passei a pedalar na calçada e, mais tarde, a passear com ele pelas ruas da cidade. Pra mim, aquilo era muito maravilhoso!
Depois, mais crescida, nossa aventura começou a ser os bloquinhos de carnaval – talvez você já tenha lido aqui no Pais em Apuros sobre o nosso DNA carnavalesco. Era só janeiro começar que a nossa maratona também começava. Tivemos também a nossa fase de parques de diversões e já nem lembro quantas vezes fomos na falecida Noite do Terror do Playcenter – acredito que essa era a época do ano mais esperada por ele.
E aí, bom, aí veio a adolescência e, como você sabe porque você também passou por isso, a gente começa a não fazer mais programas com o pai para não pagar mico na frente dos colegas. É ridículo, eu sei. Eu queria ter sabido disso naquela época.
Mas o bom da vida é que ela sempre nos dá a chance de ter novas chances. E muuuitos anos depois ela nos proporcionou uma grande aventura, talvez a maior de todas elas até aquele momento: subir juntos a Pedra do Baú no dia dos pais.
Ousado para um senhor de 60 anos? Sim. Mas aí está uma das coisas que mais admiro do meu velho: idade nunca foi um obstáculo para ele. Subimos – ele pela primeira vez – admiramos a paisagem de tirar o fôlego, descemos. E depois dali nunca mais negamos uma aventura juntos.
De lá pra cá, pedalar virou a nossa aventura de todo final de semana. Ele que teve a ideia. Toda sexta à noite planejamos o percurso, ajeitamos o equipamento, conferimos a bike e ele me manda dormir cedo “pra não perder a hora”. Ele por outro lado, acho que nem dorme de ansiedade.
Hoje, vejo que pedalar para nós já nem é só uma aventura. Pedalar é o nosso lance – o nosso lance pai e filha. A forma que encontramos de nos reconectar, de nos reconhecer e de estarmos ali, um para o outro. Incentivando, ensinando, ajudando. Às vezes me pego lembrando das nossas pedaladas de mais de 20 anos atrás e das lições que ele me dava. Em outras, os papéis se invertem e eu ensino algum truque para o pedal dele render mais. E ainda há vezes em que ele, com mais do dobro da minha idade, me deixa pra trás!
A cada pedalada temos uma descoberta, seja sobre lugares, paisagens, morros ou mesmo sobre nós mesmos. Reclamamos dos impostos, analisamos o Corinthians, discutimos política e xingamos quem indicou algum percurso que não gostamos. Vez ou outra também tomamos aquele chope para brindar o rolê.
Não sei se teríamos a mesma conexão se o nosso “lance” de aventuras não tivesse cruzado o nosso caminho de novo. Foi muito bom retomar esse momento ao lado dele, mesmo que com 20 anos de atraso. Mas sei que hoje eu mal posso esperar pelos finais de semana, pelas trilhas que vamos fazer e pelos momentos que vamos compartilhar.
Afinal, ter encontrado no meu pai o meu grande companheiro pra vida foi um dos melhores presentes que eu poderia ganhar – tudo começou com um presente que eu dei pra ele, mas, no final das contas, quem ganhou o maior presente fui eu!
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