Ser pai de menina é…
Facebook Twitter Google+ Todo homem, não importa a idade, é meio menino. Aqui no Pais em Apuros a gente até...
Vídeo de divulgação do projeto “Carona de Pai” do programa “Vida Urgente” da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga que promove a conscientização no trânsito. Thiago morreu aos 18 anos em 1995, vítima de um acidente de trânsito. O motorista do carro estava bêbado.
A realidade do trânsito no Brasil é de deixar qualquer pai de adolescentes de cabelo em pé. De acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), o país ocupa, atualmente, o nada glorioso posto de 56º trânsito mais perigoso do mundo. Entre os países das Américas, o Brasil é o 3º que mais mata, atrás apenas de Belize e República Dominicana.
Na realidade brasileira, a cada 100 mil habitantes, 23,4 morrerão em acidentes de trânsito. São cerca de 45 mil mortes por ano em todo o país. Considerando que, deste universo, 65% das mortes são causadas pela mistura de velocidade e embriaguez, grupos de pais por todo o país têm pensado em estratégias para proteger os filhos dos fatores de risco.
Uma dessas vertentes, de acordo com o consultor de segurança no trânsito Eduardo Biavati, trata-se de um rodízio de caronas, promovido pelos pais, para levar e buscar os filhos em suas saídas à noite. A prática, de acordo com o especialista, evita o que ele chama de “caronas furadas”, que são aquelas onde o jovem volta para casa com um amigo embriagado ao volante.
“É uma iniciativa muito interessante para que os pais possam monitorar os filhos. O grande problema nessa faixa etária é que os adolescentes não sabem identificar ainda quando um amigo está embriagado para dirigir. Eles não têm essa noção de risco que os pais, mais experientes, já conhecem”, explica.
Mesmo assim, o especialista adverte que a prática de conversar com pais de amigos para revezar as caronas funciona muito bem até a faixa dos 16 ou 17 anos. A partir daí, de acordo com Biavati, fica difícil entrar num acordo com os filhos, que já querem mais privacidade ou até mesmo estão em outras cidades, cursando universidade.
O especialista garante que tem jeito e a tecnologia é uma aliada dos pais.
“Vai ser na base da conversa. Hoje, por exemplo, qualquer um pode chamar um Uber ou um táxi pelo smartphone. Portanto, vale criar acordos com os filhos, trabalhar bem a conscientização de que o problema não é beber. O que alimenta as estatísticas de mortes em acidentes de trânsito é o tripé embriaguez, alta velocidade e imprudência”, explica.
Há dez anos o mecânico Rodolfo Luiz de Souza, de São José dos Campos, convive com a ausência do filho Luiz Gustavo Ribeiro, vítima de um atropelamento enquanto andava de bicicleta. À época, o jovem tinha 19 anos.
“O que eu posso dizer é que o baque de ver o seu filho se transformar em uma estatística das mortes no trânsito é muito grande. Não existe dor maior neste mundo. A gente nunca está preparado para ver os nossos filhos partirem”, explica.
Após o acidente, Souza dedica-se a ajudar pessoas que também perderam seus filhos, seja em acidentes de trânsito ou por outras causas. O mecânico é um dos coordenadores do grupo Filhos no Céu, da Diocese de São José dos Campos.
“Apesar do grupo não ser destinado apenas para as vítimas de acidentes de trânsito, há muitos casos de pais que, como eu, perderam seus filhos desta forma. Buscamos recebê-los, ouvi-los e buscarmos suporte. Não é um caminho fácil, mas nos apoiamos uns nos outros para conseguir continuar tocando a vida”, conclui.
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Por João Pedro Teles