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Afinal, Papai Noel existe?

Prazer, Papai Noel

O Papai Noel que hoje salta aos olhos nos anúncios publicitários e que interage com a fantasia das crianças é resultado de uma mistura de lendas e tradições populares ao longo da história.

 Trocando os chapéus 

A origem do bom velhinho tem várias versões, mas a mais crível remete a São Nicolau. Nicolau foi um bispo turco do século IV. Era alto e esbelto. Vestia como todo bispo da época o look: batina e mitra branca (tipo o chapéu do papa, sabe?).  De parecido com o Papai Noel moderno só a barba e a generosidade. Nicolau costumava ajudar, anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras. Reza a lenda que lançava sacos com moedas de ouro na chaminé das casas dos mais necessitados.

Papai Noel - Pais em Apuros!
Papai Noel de fases – São Nicolau, São Nicolau versão druida germânico, Father Christmas e Papai Noel

Papai Noel Pokémon 

A transformação de São Nicolau em símbolo natalino aconteceu na antiga Europa germânica (Alemanha, Reino Unido, Bélgica, Áustria, Holanda, Noruega, Suécia, Dinamarca, entre outros). Durante a cristianização da região a figura do santo benfeitor foi adotada pela Igreja, para fazer frente aos deuses nórdicos e rituais pagãos.

Mas para ser mais facilmente recebido pelas pessoas, São Nicolau passou por uma espécie de extreme makeover, sofrendo algumas adaptações. São Nicolau ganhou uma barba mais longa, inspirada em Odin, o Deus mais conhecido por lá na época. E mesmo a lenda do bom velhinho que vem voando e distribui presentes, já era algo atribuído na época à Odin, que para aquelas bandas fazia isso montado num cavalo voador durante o solstício de inverno. A partir de então o “milagre” dos presentes vindos dos céus seguiria o mesmo. Trocou-se apenas o nome do santo. Saiu Odin, entrou Nicolau.

Nasce um mito

Na Europa, Nicolau, além de santo, começou a ganhar status de mito. Cada vez menos humano e mais próximo de uma divindade, um espírito. Um símbolo do natal. Pois é, o santo bombou. Seu nome virou sinônimo de natal, a ponto de fazer frente às comemorações do “nascimento de Jesus”. Tamanha popularidade levou a Igreja na Inglaterra do século XVI a intervir novamente, mudando a comemoração do dia de São Nicolau, do dia 06 de dezembro (data de sua morte) para o dia 25, para dar mais foco para o filho de Deus. Mas para não perder a popularidade alcançada por Nicolau, o rebatizaram de Father Christmas (Pai Natal). E foi espalhado para a população o novo “job description” do santo:  um fantasma na figura de um bom homem que visita a Terra todos os anos na véspera do natal para celebrar e cobrar o espírito natalino das pessoas. Ou seja, cobrar que todos fossem bons cristãos. E para provarem sua fé as pessoas passaram a trocar presentes num gesto para demonstrar a generosidade entre irmãos.

Um conto de Natal - Pais em Apuros
Um Conto de Natal (1843). O mais clássico dos livros natalinos foi escrito sob influência do imaginário do Father Christmas.

Cruzando o Atlântico

O nome Father Christmas pegou. Na França o Sinterklass (Santo Nicolau) deu lugar ao Père Nöel (Padre Natal).  Em Portugal foi adotado o nome Pai Natal. Mas o novo nome não conseguiu apagar a lenda e os ingleses que cruzaram o Atlântico levaram para os Estados Unidos o mito Santa Claus (Santo Nicolau).

Papai Noel - Pais em Apuros!
Papai Noel Moderno – Ilustração de Thomas Nast, um dos primeiros a desenhar o Papai Noel como o conhecemos hoje. Fonte: E-farsas

Nos Estados Unidos é que o Papai Noel como o conhecemos começou a ser desenhado. Em 1823, o professor americano Clement Clarke Moore teve seu poema, chamado “The Night Before Christmas, publicado num jornal”. O texto apresenta a descrição mais antiga da história do Papai Noel que conhecemos. Faz menção a um bom velhinho, chamado Saint Nick. Nick é gordo, veste um casaco de lã e conduz um trenó voador puxado por renas. Na noite de natal o velhinho visita uma família com um saco de presentes e opta por entrar na casa deles pela chaminé.

Papai Noel - Pais em Apuros!
Natal Ostentação – Desde 1905. Arte de Carl Stetson Crawford. Fonte: E-farsas

Dando prosseguimento à construção do Papai Noel moderno, 40 anos mais tarde – em 1863 – o cartunista americano Thomas Nast criou uma ilustração que remetia ao Papai Noel descrito por Clement e que foi parar na capa da revista Harper’s Weekly. Já em 1905 o ilustrador Carl Stetson Crawford emplacou na capa da revista St. Nicholas for Young Folks, a imagem que até hoje nos remete ao bom velhinho.

De lá pra cá, o resto da história todos sabem. Infelizmente o Papai Noel virou um ícone do consumo. No Natal de hoje ganhar bons presentes se tornou para muitas pessoas mais importante do que a celebração da generosidade, verdadeiro sentido da data.

Papai Noel - Pais em Apuros!
Papai Noel dos trópicos – No Brasil o “noel” foi emprestado do francês “nöel” que significa, claro, Natal.

Papai Noel: Garoto Propaganda

O Natal é a grande data comercial do mundo ocidental. E o Papai Noel seu principal garoto propaganda. Aconteceu o que o clero inglês temia no século XVI, o bom velhinho tomou o lugar do protagonista da festa. Coitado de Jesus.

Papai Noel - Pais em Apuros!
Papai Noel gosta de Coca Cola? – Desde 1930 a marca utiliza o bom velhinho como garoto propaganda. Arte de Haddon Sunny. Fonte: E-farsas

“Esse personagem que foi construído pela nossa cultura é muito associado ao consumo. Isso faz com que a gente não saiba a origem da história desse Papai Noel”, explica a psicopedagoga Cíntia Fernandes.

No mundo contemporâneo fica difícil refletir sobre o significado real do Natal. As promessas do novo celular, do novo tablet e do novo brinquedo em muitas famílias se sobressai. Não que a história tenha sido esquecida. Mas virou estratégia de marketing. A bondade do bispo Nicolau é usada como isca para o consumo. Crianças boazinhas ganham mais presentes e de valores mais caros.

Papai Noel - Pais em Apuros!
A queda do Papai Noel – Com a origem do Natal maculada pelo consumismo, muitos pais já não contam mais a história do bom velhinho para os filhos.

Papai  Noel na berlinda

“Consumismo eu trato no dia a dia e também em datas comemorativas, como dia das crianças, aniversário e etc. Os desejos e pedidos de minha filha têm que caber no bolso dos pais. Ela pensou em várias coisas, e eu expliquei que o Papai Noel precisa presentear todas as crianças e ele não pode dar presentes caros. Ela também fala do que uma amiga tem, do que outra não tem; então converso com ela sobre não podermos e nem precisarmos ter tudo que a gente deseja ou acha que necessita”, conta a Fotógrafa Ester Carolina, mãe de Naomi (7 anos).

“Conforme ela foi crescendo as perguntas foram crescendo também. A última que ela disse é que os Papais Noéis que estão nos shoppings não são o Papai Noel de verdade, são pessoas fantasiadas que são ajudantes do verdadeiro Papai Noel, que mora no Polo Norte. Mas este ano já soube que alguns amiguinhos não acreditam em Papai Noel”, diz Ester.

Essa desconfiança da pequena Naomi é normal para a idade dela. A partir dos sete anos a criança começa a desenvolver o discernimento de fantasia e realidade. Passa a entender que um personagem de desenho, por exemplo, não existe no mundo real.

Por isso vale o alerta. O desejo de ter um brinquedo pode ser utilizado como forma de manipulação por parte das crianças a partir da idade da Naomi.

“Tem criança que não acredita na história do papai Noel, mas se faz acreditar para ter o presente.” explica Cíntia.

Papai Noel - Pais em Apuros!
Duas faces do Natal – Eis a questão. Deixar ou não, as crianças acreditarem no Papai Noel?

Sendo assim, vale a pena incentivar a crença no Papai Noel?

Acreditando ou não, o importante é estimular a fantasia e o questionamento, uma vez que as perguntas que surgem dessa crença contribuem para o desenvolvimento das crianças. Para muitos psicólogos, como a psicóloga Stephanie Wagner, do Centro de Estudos da Infância da Universidade de Nova Iorque acreditar no Papai Noel é saudável para as crianças (leia uma matéria a respeito aqui).

Letícia Zucarelli, mãe de Davi (1 ano), deseja que o filho tenha boas recordações da data e pretende estimular o lado reflexivo.

“Penso que criança tem que ser criança e aproveitar ao máximo. Vou ensinar o Davi a escrever cartinhas, para quando ele crescer ter boas recordações. Além disso, ensinarei o significado, que vai além da figura do Papai Noel, que também vai ao encontro da religião e da cultura”, finaliza.

Letícia faz bem. Até os seis anos de idade as crianças não diferenciam muito bem o que é realidade e o que é fantasia. O universo mágico dos desenhos são bastante reais para elas. O Mickey existe. O universo de Frozen também. Mas isso não é um problema. Elas aprendem um bocado com eles. As histórias são fantasiosas, mas os valores morais que carregam são verdadeiros e são muito úteis para o desenvolvimento cognitivo.

Então uma boa aposta é incluir o Papai Noel no cotidiano da criança durante todo ano, mas com um discurso voltado para o bom comportamento como sendo um fim em si, sem necessariamente acarretar na troca dele por um presente no final do ano.

O verdadeiro espírito do Natal – A pequena Tiana, de 6 anos, sabe direitinho o sentido da vida. 

Mostre que Papai Noel é um bom velhinho que quer que a criança seja boa, assim como quer que o papai e a mamãe também sejam bons. Resumindo, traga Papai Noel de volta ao job description do Father Christmas. Aposte na fantasia do bom velhinho que deseja que todos se tratem bem e com respeito. Porque quando todos são bonzinhos uns com os outros o mundo fica melhor pra se viver.

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Natal - Pais em Apuros!

Especial Natal Pais em Apuros

Confira também os textos:

Por um Natal com menos presentes”

Medo do Papai Noel. Como lidar?

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Autor desta Publicação
Gilmar Silva
Jornalista e educador.

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