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Amamentar não é um tédio! É incrível!

Sobre amamentar…

Por Gabi Sikorski

Queria começar esse texto de um jeito diferente. Quando me sento para escrever sobre amamentação, um doce filme passa na minha cabeça. Sei que sou exceção, sei que posso me considerar privilegiada por ter amamentado meu filho por dois anos e dois meses, uma vez que a média de amamentação dos bebês brasileiros é de 52 dias!

Existe uma série de argumentos e de pesquisas que eu poderia tecer aqui sobre o desmame precoce no Brasil, sobre as dificuldades que as mulheres sofrem, a falta de incentivo e apoio real por parte da equipe médica (obstetras, pediatras), sobre a necessidade da rede de apoio. Mas hoje quero dizer algo que ninguém me disse, algo que descobri por mim mesma, algo que, depois que eu entendi, tudo ficou mais fácil, mais gostoso, mais carpe diem.

Amamentar é: ser um corpo disponível

Alguns de vocês podem se assustar, pensar que estou reduzindo esse ato tão incrível que é alimentar seu filho com um alimento que sai de você a um corpo tão somente. Estar disponível, como assim?

Explico: para mim, primeiro, precisei entender que por mais que eu e Inácio fossemos uma simbiose deliciosa e muito doida mesmo depois do nascimento, eu ainda era um corpo. Esse corpo tinha vontades e necessidades que não dependiam das necessidades e vontades do meu filho. Logo, passado alguns dias do parto, eu já me sentia bem e queria voltar a fazer algumas coisas, mas sempre que achava que ia conseguir fazer algo, era interrompida por aquele chorinho (sinto saudades, confesso, rs) de fome. Então, tinha que deixar tudo de lado e ficar ali, por minutos, por horas, amamentando.

No começo eu não conseguia entender o fato de amamentar como estar fazendo alguma coisa, muito embora eu estivesse fazendo muitas coisas dentro do meu próprio corpo e principalmente para o corpinho do Inácio.

Tinha horas que ficava meio entediada, ali, parada “sem fazer nada”.Tinha horas que queria diminuir as mamadas, mas aquilo, aquela fome, aquele ato estava muito além do meu controle. Era a fome dele, o aconchego dele, as necessidades dele muito acima de qualquer vontade que eu tivesse de passar roupa, ou começar a lavar a pilha de louças que se acumulavam na pia.

Caindo a ficha

Essa consciência não veio como um lampejo de luz divina a me clarear a mente. Mas veio numa construção, especialmente dos dias mais quentes, em que eu saía do banho, colocava uma cadeira próxima a janela do quarto, abria os vidros, pegava meu bebê no colo e me permitia amamentá-lo só com a toalha da cintura para baixo. Ficava nua da cintura para cima, e deixava Inácio também nu para que pudessemos sentir esse contato de pele tão necessário e maravilhoso. Nesses momentos especialmente eu me permitia ser e estar disponível de corpo e alma, nutrindo meu bebê.

A medida que os dias passavam e eu via Inácio crescendo, se desenvolvendo engordando, eu ia percebendo que sim, era eu quem estava fazendo aquilo. Era meu corpo, em toda generosidade que a Natureza lhe concedeu, que fazia florescer em forma, amor e num gordinho gostoso, o meu filho.

Você está fazendo algo incrível

Por isso, se eu puder dar um conselho para as mães de recém nascidos, que estão naquele comecinho onde tudo é difícil, e que querem muito amamentar seus bebês,  eu diria: esteja disponível. Seja disponível. Entenda, você não está apenas sentada ou deitada sem fazer nada. Você está fazendo algo incrível!

Você está nutrindo seu filho de um alimento que sai de você. O melhor alimento que ele poderia ter. Seja generosa com você mesma nesse processo.

Não se cobre tanto, o resto do mundo pode esperar. Seu filho, não. Até mesmo, porque sabemos pelos desmames da vida, que nem amamentação dura para sempre.

***

Padrim - Pais em Apuros

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