Sobre Bullying, Assédio e Suicídio
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Voltaram as aulas! Basta reparar a cidade para perceber isso. No entanto, com um olhar um pouquinho mais aguçado, nota-se que tem gente indo para a escola de um jeito diferente, um jeito que anima a criançada. Não vão a pé, nem de van, ônibus ou muito menos carro. Vão é pedalando e curtindo o trajeto que se transforma num passeio. O pedal pode ser na própria bicicleta ou na cadeirinha instalada na magrela do pai ou da mãe.
A verdade é que num passado, em qualquer região da cidade, era mais comum ir de bike para a escola. Com as transformações da urbe e do trânsito – hoje bastante dominado pelos automóveis -, isso foi ficando mais restrito às periferias, visto que nelas o ir e vir de bicicleta ainda é uma alternativa bastante viável economicamente e, além do mais, muitos estudam bem perto de suas casas (logo, não precisam vencer longas distâncias).
Mas, como algumas cidades estão assistindo ao atual surgimento (ainda que tímido) de suas primeiras ciclovias e ciclofaixas, alguns pais e mães de regiões centrais vêm experienciando a pedalada rumo à escola junto a seus filhos. E, de quebra, ainda, trocam com a cria olhares e sensações sobre a cidade, além de noções de comportamento em meio ao trânsito, desde cedo.
Dessa forma, cidade e cidadania se misturam de um jeito dinâmico e, principalmente, divertido, pois é raro demais uma criança não sorrir enquanto pedala seja no quintal, na rua ou numa ciclovia.
Para João Carlos Rocha Campos, 47, professor e pai de três filhos, já é rotina o leva e traz da trupe rumo aos estudos, pelo menos três vezes por semana. O percurso de ida e volta soma cerca de 4 km ou até 6km, quando precisa passar em duas escolas. Ele descreve que grande parte do pedal é coberto pela ciclovia da avenida 9 de Julho e outras do Jardim Esplanada, em São José dos Campos. Nos trechos em que não há ciclovia ou ciclofaixa, segundo ele, usam a calçada muitas vezes. No caso, o filho menor, Vicente, 3 anos, é transportado na cadeirinha instalada na bicicleta de Campos. Já Tomás, 9, e Francisco, 6, seguem em suas próprias bicicletas atentos às orientações e zelo do pai.
Quanto ao polêmico uso das calçadas, Campos explica: “o seu uso, ainda que inadequado por desrespeitar o espaço do pedestre, é um recurso extremo para garantir a segurança das crianças. Elas ainda estão aprendendo a se posicionar, a prestar atenção nos veículos, pedestres, sinalizações e etc. Por isso temos que recorrer a elas”. Porém, ele completa com a seguinte reflexão que conduz à noção, já cedo, de cidadania e convivência entre os diferentes modais: “sobre a calçada, os meninos estão bem atentos à necessidade de interferir o mínimo possível no deslocamento dos pedestres, pedalando muito devagar, passando longe dos transeuntes, avisando sobre sua aproximação e agradecendo o espaço ‘emprestado’”.
Ele relata que, frequentemente, se desculpam com os pedestres pela “invasão do espaço”. Dessa forma quem está a pé não se sente ameaçado e muitos conseguem perceber a importância da experiência das crianças e apoiam essa prática.
Àqueles que pretendem passar pela experiência, a dica unânime entre os pais e mães já experientes no assunto é o planejamento do trajeto. Isso pode ser feito num domingo, por exemplo, para se visualizar o espaço urbano com mais calma. Assim, variadas rotas – na maioria das vezes, diferentes daquelas feitas pelos veículos motorizados – podem ser testadas até se concluir qual é a mais confortável e mais segura. E, pouco a pouco, definida a rota e fazendo-a com certa frequência, os pais vão notar as tantas e ricas observações que as crianças fazem à medida que pedalam e interagem com a cidade. A interação pode ir da amizade feita com o pipoqueiro da esquina até aquele “oi” dado para aquele cachorro que late toda vez que passam em frente a uma determinada casa.
Pedal vem, pedal vai e, junto a isso, pode ser que a própria infraestrutura cicloviária cresça e a tolerância entre pedestres, motoristas e ciclistas também (é o que tanto se almeja!). Terá aumentado a idade da criança e a sua relação de responsabilidade junto ao trânsito. Logo, vai chegar a hora em que ela, sozinha – ou junto a amigos – poderá ir para a escola pedalando sem o olhar “colado” dos pais.
Tá aí: é o brinquedo bicicleta ajudando também na própria emancipação dos filhos. Afinal, como tanto dizem adultos experientes, que adotaram de vez a bike como meio de transporte na urbe, “a bicicleta nos dá liberdade e autonomia, sobretudo”.
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