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Brincando de Meditar

Meditar vem do latim “Meditare”, que significa olhar para o centro, no sentido de desligar-se do mundo exterior. Meditar serve para recompor-se. Os americanos tem uma expressão que sintetiza bem o maior benefício da prática: “pull yourself together” (algo como, acalme-se e pare de reagir sem pensar aos estímulos externos que lhe afligem). E isso, recompor-se, se acalmar diante dos estímulos externos é algo que nós do “Pais em Apuros” acreditamos que a criançada anda precisando. Atualmente muitas crianças apresentam crises de ansiedade, por isso consultamos especialistas sobre os benefícios da meditação para prevenir e combater transtornos ansiosos. E o que eles nos contaram você confere nesta reportagem.

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A correria do dia a dia da vida moderna faz muitos pais operarem no automático, um vai e vem sem fim que combina trânsito, trabalho, contas a pagar, família e amigos. Tudo isso em tempos cada vez mais escassos e sem brechas para reflexão. E em meio a essa turbulência de demandas também estão as crianças, hoje super atarefadas, com agenda cheia, correndo lado a lado dos adultos, sem conseguir entender muito bem o por quê de tanta pressa.

Essa anestesia coletiva dos adultos tem respingado nos mais novos e tem feito com que muitas crianças entendam a correria dos adultos como um padrão a ser seguido. Estar sempre em movimento, angustiado, com pressa, com rompantes de nervosismo, de repente para uma geração de pequenos vem se desenhando como algo ok, o “certo”. Só que o surgimento de uma geração de crianças que são como miniaturas de adultos estressados não é nada ok, certo?

Brincando de meditar

Para a Idealizadora do Projeto Brincando de Meditar, Taynã Malaspina Bonifácio, a meditação e a sua simplicidade podem ser um caminho para os pais que buscam bem estar para os pequenos.

“A Meditação pode ser uma importante aliada no desenvolvimento integral da criança, apoiando o resgate da relação com o tempo, com o sagrado e com a fé, podendo ser aplicada num contexto secular, independente de qualquer vínculo religioso.” Afirma Tainã.

Transtornos como Hiperatividade e Déficit de Atenção (TDHA), (problema neuropsiquiátrico que, de acordo com a Pesquisa Fapesp, publicada em maio de 2015, atinge até 9% das pessoas com menos de 18 anos e 4% dos adultos) têm sido glamourosamente diagnosticado e remediado às pressas por profissionais e pela veloz indústria farmacêutica, que parecem desconhecer qualquer trato no que diz respeito à humanização com o paciente.

“A criança “mais ativa” tem sido vista como a criança que incomoda, que atrapalha. Porém é necessário ter em mente que são rótulos e respondem mais ao convívio. O nosso papel é questionar o quanto este comportamento impacta a vida cotidiana, as relações e a aprendizagem. Se impacta negativamente buscamos entender se há um padrão rígido na escola, ou na expectativa dos pais ou professores.” Afirma Elvira Araújo, Professora Doutora do Departamento de Psicologia da Universidade de Taubaté – Unitau.

Na loucura cotidiana e rodeados por apuros os pais estão em busca de práticas alternativas para melhorar a qualidade de vida e fortalecer o convívio espiritual de seus filhos, como é o caso da Advogada Letícia Paiotti, que leva seus dois filhos, Marília de 7 anos e Léo de 4 para a meditação infantil.

“Precisamos parar um minuto para eles aprenderem a conviver com o próprio silêncio. É importante sair do excesso de atividades para conseguir desenvolver o foco.” Afirma a mãe.

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Pais e filhos em sessão de meditação do projeto “Brincando de Meditar”, em São José dos Campos – SP.

A meditação na Educação

A velocidade da tecnologia para captar o instante que se pressupõe e se deseja duradouro como o riso, a diversão, o beijo, o abraço e o afeto se contradiz, uma vez que é efêmera e se perde na rapidez de seu próprio clique.

Onde parar? Por que parar? Existe o espaço para a contemplação, doação e construção de laços no mundo moderno? Qual a prioridade? Crianças estimuladas e conscientes de sua existência e deveres com a sociedade? Ou crianças robotizadas pelo excesso de afazeres sem tempo para uma vivência lúdica de qualidade?

A artista plástica e educadora Pitiu Bomfin, responsável pelo Projeto Recriarte na ONG Instituto Recriar, projeto de educação complementar que atende crianças entre 6 e 11 anos de escolas públicas da região do Vale do Paraíba aplica a prática de meditação como processo educacional.

“Uma atividade como meditação/yoga torna-se um recurso importante que podemos recorrer na prática das outras atividades. No Atelier, por exemplo, é comum que aconteça situações de conflito entre duas crianças ou mais, quando isso acontece paramos a atividade e propomos que pratiquem a respiração como na meditação, prestando atenção e repetindo várias vezes. Isso tira o foco do conflito num momento tenso e podemos retornar para avaliar o ocorrido com mais calma; exercitando escutar o outro e perceber pontos de vistas diferentes, o que incomoda o outro, aprender expressar sua ideia e dialogar.” Ressalta a educadora.

A Unesco propõe quatro pilares fundamentais na educação:

Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, e finalmente aprender a ser.

Será que realmente essa política é estimulada em nossas escolas públicas e privadas?

“Grande parte das instituições ainda tratam as crianças como um depósito de informações e esquecem que por trás delas existe uma alma para se educar. O maior presente que podemos oferecer às crianças é estimular sua mente aberta, seu coração cheio de compaixão e sua criatividade vibrante.” Afirma Tainã.

Ao leitor eu fica a pergunta: a partir de qual realidade os seus filhos aprendem e constroem seus universos?

É preciso mais do que os olhos, que muitas vezes, camuflados pela razão, não enxergam. É preciso que o corpo todo se aperceba, é preciso atenção, ternura e um bocado de amor.

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Por:  Vanessa Alves

Autor desta Publicação
Vanessa Alves
Jornalista e poeta. Amante de metáforas, psicanálise, ciência e toda forma de Arte.

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